domingo, 27 de outubro de 2013

Reviravolta na origem dos peixes (outra)

Uma questão que tem recebido bastante atenção dos paleontólogos é a origem de um grupo de vertebrados que alcançou um sucesso muito grande ao longo de sua história evolutiva. Trata-se dos gnatostomados, animais que possuem as arcadas superior e inferior bem individualizadas. Esse interesse dos cientistas não é para menos. Basta olhar ao redor para encontrar um integrante dos Gnathostomata. Peixes – desde os tubarões e raias até os ósseos –, aves, anfíbios, lagartos e mamíferos, incluindo a nossa própria espécie (Homo sapiens), todos pertencemos a esse agrupamento. Pensando apenas nos peixes cartilaginosos e nos peixes ósseos, havia uma teoria que acabou ficando enraizada na mente dos pesquisadores. Acreditava-se [acreditava-se, mas falava-se como se fosse fato] que o ancestral desses gnatostomados deveria ter sido predominantemente cartilaginoso e ter tido um aspecto geral bem semelhante ao dos tubarões.

Com isso, veio a noção de que diversas características dos peixes ósseos, como a existência de placas ósseas na cabeça e nas arcadas dentárias, formariam um conjunto de novidades evolutivas. Devido à falta dessas características, os peixes cartilaginosos como o tubarão seriam formas muito primitivas. Mas uma descoberta feita por Min Zhu (Institute of Vertebrate Paleontology and Paleoanthropology, Pequim) e colaboradores publicada com destaque na Nature mostra que talvez não tenha sido bem assim.

Sempre que enfocamos um grupo muito diversificado e que possui uma história geológica bem antiga, acabamos esbarrando em um monte de termos e nomes de agrupamentos que não fazem parte do nosso cotidiano, nem mesmo o de muitos pesquisadores. O caso dos Gnathostomata é assim: há diversas espécies e grupos extintos que a maioria das pessoas nunca ouviu falar.

De uma forma simplificada, os gnatostomados são divididos em quatro grupos principais. Os mais conhecidos e que possuem representantes atuais são os Chondrichthyes, onde são classificados os tubarões, as raias e as quimeras, e os Osteichthyes, que são os peixes ósseos – além, é claro, dos tetrápodes (animais com quatro membros). Também fazem parte dos Gnathostomata os placodermos, que são peixes com uma armadura óssea bem típica, e os Acanthodii, peixes cujo crânio e as arcadas dentárias são formados por dezenas de pequenas placas ósseas.

Quanto aos peixes, as relações de parentesco tradicionais apresentavam os placodermos na base, seguidos pelos acantódeos, depois pelos tubarões e formas aparentadas, e, finalizando, pelos peixes ósseos. Dessa forma, segundo essa teoria, as placas dérmicas encontradas nos placodermos não seriam as mesmas presentes nos peixes ósseos. Assim, primeiro teriam surgido os placodermos com placas ósseas que vieram a ser perdidas nos acantódeos e novamente adquiridas pelos peixes ósseos de forma independente. Uma das conclusões dessa hipótese é que os peixes cartilaginosos seriam formas muito primitivas.

Já há alguns anos, Min Zhu e colegas trabalham coletando fósseis na região de Yunnan, na China, mais especificamente em depósitos da Formação Kuanti. Essas rochas representam um mar que existia na região há 419 milhões de anos [segundo a cronologia evolucionista], um tempo que chamamos de Siluriano. Essas camadas já revelaram muitos fósseis importantes, incluindo os mais antigos peixes ósseos, que também foram estudados pela equipe de Min Zhu em outro trabalho publicado na Nature.

Entre o material coletado estavam alguns exemplares que Min Zhu e colegas denominaram deEntelognathus primordialis. Após um primeiro olhar no crânio dessa espécie, se tem a nítida impressão de que se trata de um placodermo, com grandes placas ósseas formando uma armadura bem típica do grupo. Como o material é muito completo, o achado por si só já seria digno de destaque, particularmente quando se pensa na idade bem antiga das rochas [lembra-se do velho pensamento circular? Os peixes são antigos porque as rochas em que estão são antigas; e as rochas são antigas porque contêm esses peixes antigos].

Porém, a surpresa maior vem quando se observa a parte lateral da cabeça de Entelognathus. Ao contrário das grandes placas da arcada inferior típica dos placodermos, a nova espécie apresenta placas menores totalmente integradas com outros ossos da face lateral do crânio, bem parecidas com o que se observa nos peixes ósseos. Ou seja: o Entelognathus tinha a cabeça de um placodermo e as arcadas dentárias de um Osteichthyes, algo totalmente inesperado.

O impacto da descoberta sobre o entendimento da evolução dos peixes gnatostomados é tremendo. Primeiramente, a relação de parentesco estabelecida no estudo de Min Zhu e colegas demonstra que os acantódeos não estão mais na base da evolução dos peixes, mas sim proximamente relacionados aos tubarões e demais peixes cartilaginosos.

A posição basal de Entelognathus e o estabelecimento de que pelo menos algumas placas ósseas dos placodermos eram compartilhadas pelos Osteichthyes necessariamente leva à conclusão de que, na realidade, o ancestral dos gnatostomados não deveria ter um aspecto similar ao do tubarão, mas sim ter sido revestido por placas ósseas que foram perdidas ao longo do tempo nos peixes cartilaginosos. Ou seja, o tubarão passou de um animal mais basal e primitivo para uma forma bastante evoluída.

As consequências do novo achado ainda estão sendo “digeridas” pelos pesquisadores. Muita coisa na história evolutiva dos gnatostomados terá que ser revista. Mas uma coisa é certa: Entelognathus demonstra, mais uma vez, a importância do estudo dos fósseis para tentar entender a evolução e diversificação da vida no nosso planeta [ou seja, as evidências mudam, os golpes vêm, mas a teoria da evolução permanece em pé, sustentada por escoras epistêmicas insistentemente colocadas por seus defensores].

Outro ponto que merece destaque é a constatação de que a China continua surpreendendo o mundo científico com novas descobertas, desde as mais midiáticas, como os dinossauros com penas e outras partes de tecido mole excepcionalmente bem preservadas [o que sugere que foram sepultados de forma instantânea sob água e lama], até peixes e invertebrados de todos os tipos [que catástrofe os teria soterrado?]. Esses resultados figuram nas principais revistas científicas do mundo, como Nature e Science. [...]

Fonte: Ciência Hoje

Nota do blog Criacionismo: Interessante notar como as hipóteses evolutivas vêm sendo alteradas pela pesquisa de campo, como aconteceu com os “homos” (confira) e agora com os peixes. E alguns ainda têm a pretensão de achar que sabem muito sobre essa estória... [MB]

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